5 - Fundador


Castello di Frinco – comprado pelo fundador
Fundador

São José Marello, uma vida exemplar
 e edificante
Capítulo 5

129 - A realização do Concílio Vaticano I em 1870 com o Papa Pio IX e o fim do poder temporal do Papa, foram dois acontecimentos que incidiram na vida da Igreja depois dos anos de 1870. O Papa Pio IX não aceitou a ajuda que o governo italiano quis dar à Igreja em 1871 com as leis “Guarentigie”, preferindo confiar na ajuda do mundo católico com o óbolo de São Pedro e este foi um sinal que levou os leigos católicos, dentre os quais os jovens, a se unirem sempre mais ao Papa. Neste ínterim começou em Turim, uma cidade italiana dentre as outras da Itália que vivia grandes problemas sociais por causa de sua fase de industrialização, um florescimento de Associações católicas que deram um despertar do laicato católico e da ação social da Igreja. Em Asti havia a obra pia Michelerio para os órfãos, a qual era conduzida por  Giovanni Battista Cerutti desde 1860 e depois, em 1874, surgirá o Asilo Cerrato. É nesse fermento do surgimento de Associações de caráter social que devemos olhar a tentativa de Marello  de instituir em Asti, no ano de 1872, uma “Companhia de São José”. Para viabilizar o seu objetivo ele escreveu, no dia 25 de outubro deste mesmo ano, uma carta aPe. Giovanni Battista Cerutti e nesta (Carta  N. 76), deixava claro que sua intenção não tinha nascido apenas de sua cabeça mas que fora fruto de idéias partilhadas com alguns de seus amigos, que desejavam sob a proteção de São José servir aos interesses de Jesus na Igreja de Jesus, onde funcionava o Michelério. Com esses seus amigos Marello já fazia o apostolado da boa imprensa, circulando livros para a boa leitura, para o qual já possuíam centenas de volumes recolhidos ao longo dos últimos cinco anos. Estes amigos de Marello eram, Rossetti e Delaude.

130 -  A “Companhia de São José” idealizada por Marello em 1872 tinha os mesmos objetivos das Associações laicais fundadas naqueles tempos em Bolonha, em fevereiro de 1867 (por Mario Fani e Giovanni Acquaderni), a “Sociedade da Juventude Católica italiana”, e em Turim em 1871, o “Círculo beato Sebastiano Valfré da Juventude Católica”. Tratava-se de “cuidar dos interesses de Jesus”, uma expressão muito significativa naquele tempo, servindo-se de todas as armas da fé para a consagração dos pensamentos, dos afetos, os estudos, a defesa da moral, dos bons costumes e da liberdade do Papa. Os membros desta Associação seriam tanto leigos como sacerdotes de boa vontade com o compromisso da oração pessoal e comunitária, Adoração ao Santíssimo na igreja de Jesus em Asti, assim como de realizar boas obras, agir em obediência ao Papa e ao bispo, promover uma biblioteca ambulante e também de um bazar católico de objetos de culto e o trabalho para as igrejas pobres. Tudo devia ser feito tomando as inspirações de São José que foi o primeiro na terra a cuidar dos interesses de Jesus. Pe. Giovanni Battista Cerutti, pessoa boa e preocupada com a juventude em seu Michelerio e conhecendo Marello não teria dito não a este projeto, mas outras dificuldades fora do ambiente do Michelerio, pelas quais se pode dizer que a diocese de Asti não estava preparada ainda para aquele gênero de atividade, fizeram com que o projeto de Marello não fosse concretizado. Contudo, não foi perdido porque Marello começou a freqüentar a igreja de Jesus no Michelerio onde fazia palestras, organizava adoração ao Santíssimo Sacramento, particularmente para os membros da “Pia união das adoradoras perpétuas” e até preparou um opúsculo de orações e de conselhos, que teve a sua segunda edição impressa em 1896. Desse trabalho de Marello surgira também em 1896 aPia união das damas auxiliadoras”, com estatuto feito por Pe. Giuseppe Gamba e os seus membros eram todas filhas espirituais de Marello.

131 -  Depois da tentativa da fundação da “Companhia de São José” no ano de 1872,  e da conseqüente inviabilidade deste projeto, Marello continuou buscando a vontade de Deus atento em como melhor pudesse servir a Igreja. Passaram alguns, anos quando em 1877, veio o ano que segundo a expressão e Pe. Giovanni Battista Cortona, foi o ano em que MarelloNão duvidou mais da vontade de Deus” e consequentemente se propôs fundar a nova Congregação. Tinha 33 anos de idade e 9 anos de sacerdócio. Para isso buscou apoio de Pe. Giovanni Battista Cerutti e também na sua obra, o Michelerio, que bem conhecia, pois era assíduo freqüentador desta casa. O cônego Cerutti acolheu bem a idéia de Marello, visto que a obra pensada por ele podia lhe ser  muito útil aos órfãos. Apoiado por Cerutti sem ainda vislumbrar o perigo de ver sua obra somente em função de prestação de serviço aos órfãos do Michelerio, Marello se pôs a procurar, a partir daí, os primeiros candidatos para a sua “Companhia de São José”. O cônego Cerutti colocava suas atenções sobre os melhores jovens do Michelerio para futuros membros da obra de Marello. Apoiado por Cerutti, Marello escreveu uma carta ao Pe. César Rolla, de 28 anos e pároco de Mongardino. Nesta primeira carta (Carta N. 94) ao Pe. Rolla escrevia-lhe: ”Conhece por ventura algumas dessas almas, seja de um rude camponês ou de um pobre operário que se  sinta inclinada a....”. Escrevera mais outra carta com o mesmo intuito ao Pe. Rolla e uma outra sem identificação.

132 - O Asilo Cerrato, apoiado por Dom Sávio, no qual trabalhavam as Irmãs da Piccola Casa do Cottolengo, foi um meio que fez Marello ter bastante contato com o sucessor do Cottolengo,  Pe. Luigi Anglesio que, por várias vezes, foi a Asti para questões desta casa fundada por Giovanni Cerrato, homem generoso que depois de 20 anos como professor do primário deixou a profissão por motivo de saúde e se dedicou ao comércio, mas descobrindo que não era isso que queria fundou o referido Asilo. Tanto Pe. Anglesio como Pe. Felice Carpignano, secretário de Dom Gestaldi, bispo de Turim, foram dois sacerdotes torinenses aos quais Marello se dirigiu para receber conselhos a respeito de sua Congregação. O mesmo se diga de Dom Bosco, conforme declarou o Superior Geral dos Salesianos, Pe. Pietro Ricaldone.

133 -  Com a morte de Dom Sávio assumiu aos 56 anos de idade  a diocese de Asti Dom Giuseppe Ronco, um homem rude e duro no relacionamento, em contraposição a Dom Sávio, homem dócil amável. Diante do novo bispo, Giuseppe Marello deixou passar um pouco o tempo e depois lhe apresentou um relatório sobre a idéia de sua Congregação pedindo-lhe para lê-lo e depois de dar-lhe um parecer. Depois de muitas semanas de espera Marello se apresentou ao bispo e com muita modéstia pediu-lhe o parecer sobre o relatório, mas o bispo o acolheu com muita frieza e disse-lhe “Eu não li o seu relatório, quando você me entregou-o, eu o coloquei sobre a escrivaninha e ainda se encontra lá sem ter sido mexido, se quer eu o restituo”. O Fundador tomou de volta o seu manuscrito e colocou-o numa gaveta abandonando-se nas mãos de Deus. Dom Ronco não tendo lido o relatório não sabia quem era o fundador da Congregação, aliás, acreditava que era uma obra do cônego Cerutti. Ilustra essa verdade o fato de um dia Dom Ronco ver Giovanni Medico (então Irmão) conversando com Marello, aproximando-se dele lhe perguntou: “Quem é o teu superior o penitenciário (Cerutti) ou o cônego Marello”, ao que Medico respondeu-lhe: ”o nosso primeiro superior é vossa excelência, depois vem o cônego Marello”. Diante desta reposta Dom Ronco disse-lhe: ”Muito bem, queria dizer-lhe que devia ser o cônego Marello”.

134 - O primeiro objetivo de Marello com a fundação da Congregação era ressuscitar a vivência dos Conselhos evangélicos na diocese de Asti. Queria também abrir as portas da vida religiosa para as pessoas mais humildes tais como eram os camponeses e  os operários, assim como para as pessoas mais idosas. Para isso viu São José como modelo inspirador, homem totalmente consagrado a Deus, de vida escondida, pobre, laboriosa e de oração. Chamou-os de “Irmãos de São José” e a casa deles “Casa de São José”. No primeiro esboço da Regra fundamental da Congregação dizia: ”A quem por qualquer motivo (idade avançada, problemas de estudo, etc.) não possa ascender ao estado eclesiástico ou religioso, e todavia deseja seguir mais de perto o Divino Mestre de perto com a observância dos Conselhos Evangélicos, está aberta a Casa de São José, onde retirando-se com o propósito de permanecer escondido e silenciosamente operoso na imitação daquele grande Modelo de vida pobre e obscura, terá a possibilidade de tornar-se verdadeiro discípulo de Cristo... Irmão de São José não é religioso professo, mas simplesmente Oblato que se oferece continuamente a Deus, para alcançar a perfeição desapegado de todo terreno gozo de corpo e espírito.”. Marello não pensava ainda no estado eclesiástico e nem no religioso com os votos para os Irmãos de São José. Deixava bem claro que o objetivo era: “tornar-se discípulo de Cristo” na imitação de São José, tendo-o como modelo de vida pobre e escondida, sendo a Casa de São José o lugar para se irmanar-se na vivência da caridade, com um desapego efetivo das coisas terrenas. Em quais específicos ministérios os Irmãos de São José deviam atuar Marello não teve de imediato do Senhor uma clara manifestação.

135 - Na fundação da Congregação Dom Carlos Sávio teve a sua  atuação como diretor espiritual ao aprovar a idéia de Marello e não apenas em aprovar, mas também em aconselha-lo. De fato, Pe. Carandino afirma que Dom Sávio deve ser considerado o avô da Congregação. Como bispo participou do surgimento da Congregação sugerindo ao Marello orientar os primeiros Irmãos para ajudar as paróquias como catequistas e sacristãos. Estes deviam, portanto, serem bons sacristãos, bons liturgos e bons músicos.

136 - Marello fundou a Congregação dos Oblatos de São José no dia 14 de março de 1878, tendo como primeiro Oblato Giorgio Medico, um jovem de 23 anos de idade que já tinha estado no seminário de Asti, no ano anterior, mas tinha saído devido a problemas de saúde e também por dificuldades financeiras. Marello o conhecida porque era confessor e professor de catecismo no seminário. No ano seguinte a sua saída, Medico participou assiduamente das missões em sua paróquia, em Annone e em contato com os pregadores que eram Lazaristas, pediu para ser aceito nesta Congregação, mas antes de entrar recebeu uma carta de Marello convidando-o para ser “Irmão de São José”, mas não aceitou esta proposta, pois não se sentia de entrar em uma Congregação nova e nem mesmo iniciada. Mas Marello insistiu com ele, pedindo-lhe para fazer por um pouco de experiência. Aconselhado pelo seu pároco, Pe. Stura, para que atendesse ao pedido de Marello, o qual era secretário do bispo e pessoa que gozava de grande estima e admiração, então aceitou. Da mesma forma, o cônego Cerutti apresentou outros três internos do Michelerio para fazer parte desta primeira comunidade. Esses eram Pietro Luigi Beamino, com 20 anos de idade e trabalhava na alfaiataria; tratava-se de um jovem muito inteligente. Giuseppe Luigi Rey. Com 18 anos de idade; era um jovem bastante simples e estrábico. Vicenzo Franco, com 44 anos de idade; pessoa simples e boa e um operário do Michelerio. Passados quatro meses se uniu a esse primeiro grupo, no dia 20 de julho, Giuseppe Cappussotto de 21 anos; um jovem camponês, simples e piedoso. Poucos dias depois, 6 de agosto, entrava Francesco Ponzo, de 26 anos que trabalhava com alfaiate em Castelnuovo Calcea, cidade onde era pároco Pe. Antonio Vespa, companheiro de ordenação de Marello.

137 -  Em setembro do mesmo ano (1878) a obra de Marello ganhava Giovanni Battista Cortona o qual era contado pelo cônego Cerutti, pois tinha saído do Michelerio para prestar o serviço militar por 3 anos. Pensava entrar no seminário da diocese de Ancona, mas ao convite de Cerutti para voltar para Asti ao seminário da diocese, indeciso em aceitar ou não, dirigiu-se à Catedral de Ancona, diante do altar dedicado a Nossa Senhora Rainha de todos os santos e ali rezou pedindo luzes e depois de uma longa oração sentiu como que uma resposta interna que lhe dizia de voltar e assim Maria lhe indicou que devia voltar à Asti. Em Asti, Marello lhe fez o convite para participar de sua obra, contudo, Cerutti o revestiu com o hábito clerical no dia 8 de dezembro e colocou-o separado do meio dos Irmãos para que o seu exemplo não impressionasse os outros que não quisessem também estudar. Vale dizer que Cerutti era um homem douto, de piedade, bastante estimado e procurado como confessor e a prova disso é que Marello depois da morte de Pe. Vay, escolheu-o como seu confessor. Oficialmente Pe. Cortona entrará na Congregação em 1883, depois de ordenado sacerdote, mas seu registro dentro dela mostra o dia 11 de setembro de 1878.

138 - A Congregação de Marello iniciou num lugar alugado dentro do Michelerio na mais real pobreza, tendo um cômodo de 5,90 mt por 4,10 m que servia para sala de estudo, para lavanderia e o refeitório o qual tinha uma mesa pobre sem toalha e nem guardanapos, apenas um avental servia de toalha. Os pratos eram de terracota preta como usavam as famílias pobres do campo. Na sala um quadro de São José sem moldura. No andar superior do Michelerio foi alugada uma sala que servia de dormitório. Nos seis primeiros meses os Irmãos viviam o dia na sala do andar térreo e dali saiam sete vezes por dia para a capela para rezar, participando da missa todos os dias, a qual era celebrada pelo cônego Cerutti. Rezavam todos os dias o Oficio da Bem aventurada Virgem e o Rosário. Na formação recebiam todos os dias do teólogo Tiago Garetti, que era professor no seminário,  as aulas de catecismo, e de Marello, ao menos uma vez por semana até que foi nomeado bispo, a formação pautada fortemente sobre a vida e as virtudes de São José. Também o cônego Cerutti dava-lhes formação. Todo o tempo livre depois da formação e das práticas de piedade era empregado para o trabalho no Michelerio seja como assistentes dos internos, seja como alfaiates, sapateiros, tipógrafos, porteiros, hortelões. O cônego Cerutti permanecia toda a manhã fora de casa para seus compromissos e Marello também, por isso Pe. Giuseppe Asso se responsabilizava pela casa como vice-reitor. Este, não raro, colocava em ridículo os Irmãos, como lembra Pe. Medico que os obrigou esvaziar as fossas do Michelerio que há 30 anos não  eram limpas  e isso não sem o perigo de se asfixiarem e depois levaram todo o resíduo retirado das mesmas para adubar a horta.

139 - Em outubro de 1885, Marello se transferiu para Santa Chiara ocupando um quarto muito simples com piso de tijolos e o colchão feito de palha. A presença de Marello entre os Irmãos foi-lhes um estímulo para viver a piedade, a operosidade e o amor aos pobres, também se ele podia permanecer pouco tempo com eles devido as suas ocupações na cúria e na Catedral. Geralmente chegava depois do horário do almoço da comunidade, mas Pe. Cortona e Medico o esperava para almoçarem juntos.

140 - Marello na sua humildade procurava não ressaltar o que fazia e buscava a colaboração de todos os membros da Congregação para o bom andamento dela. Pe. Carandino testemunha que Marello em uma das suas colocações quando ainda estava em Asti, disse: ” A nossa Congregação não tendo à frente um fundador de expressão, como tiveram tantas outras, mais um simples sacerdote cheio de boa vontade sim, mas sem dons especiais, precisa que todos os seus membros contribuam com a prática das virtudes e com conselhos e se tornem juntamente com quem tem o nome de fundador “Verdadeiros fundadores”. Por isso, todos nós devemos rezar de comum acordo e trabalhar para a Congregação, esperando com humildade que Deus nos ilumine manifestando-nos o que deseja de nós, e nos dê a força necessária para fazer a sua vontade”.

141 -  Devido a peculiar humildade de Marello houve quem pensasse que os Oblatos era uma criação do cônego Giovanni Cerutti, diretor do Michelerio onde viviam os primeiros membros de sua “Companhia de São José”. De fato, Cerutti os chamava de os “meus fradinhos”, e fazia também a sua vestição. Entretanto Marello não se importava com isso e deixava que Cerutti dissesse e fizesse.

142 - O que o Fundador ensinava aos seus primeiros Oblatos? Sabemos que Marello ao ver a penúria de clero na diocese de Asti teve a intenção em primeiro lugar de colocar como colaboradores dos sacerdotes os Irmãos, e depois, num segundo momento sacerdotes. Esse motivo na fundação de Marello não é o primeiro e nem o único, afirma  Pe. Antonio Geremias, mas o primeiro motivo é teológico, ou seja, a experiência e o amor de Deus vividos  pelo Fundador e como resposta, a sua consagração e o abandono a Ele. É difícil ter uma idéia clara daquilo que Marello ensinava aos seus Oblatos, pois não possuímos anotações sobre isso, mas segundo Pe. Cortona, Marello comunicava aos seus Oblatos aquilo que nos longos anos de meditação tinha absorvido das virtudes e dos méritos de São José. Ele tinha lido todas as obras de São Francisco de Sales, em particular aquelas que o santo fala de São José, e com isso tinha uma idéia de São José e um desejo forte em imitá-lo. Marello, sobretudo se detinha sobre a vida interior de São José. Particularmente procurava imitar os exemplos das virtudes apreendidas da vida de São José. Por isso nunca se via Marello abatido pelas contrariedades e nem também muito alegre na prosperidade, mas não deixando nunca em ser alegre, afável e delicadíssimo com todos. O ponto principal da vida de São José que Marello se detinha com os Irmãos Oblatos era a vida escondida deste grande Patriarca com seu amantíssimo Jesus. (cfr Brevi Memorie, pg 26). Para Marello a “Casa de São José” era o lugar da “imitação de São José”. Os Oblatos eram, portanto, chamados ao “serviço de Deus na imitação de São José” e por isso a máxima que ele repetia aos Irmãos era: ”et vita vestra abscondita sit cum Christo in Deo”. Esta é a frase bíblica que sintetiza a espiritualidade da Congregação. Todo o compêndio do ensinamento de Marello o temos, porém, em duas frases: “Sede Cartuxos em casa e Apóstolos fora de casa” e “ Como São José, vivamos cada dia segundo às disposições da Providência fazendo o quanto nos é sugerido”. Essas duas frases são palavras do Fundador, porém não aparecem em seus escritos; essas vão enquadradas na plataforma que é própria da espiritualidade josefina, com uma chamada de atenção constante para a “imitação de São José”. A frase “Sede Cartuxos em casa e Apóstolos fora de casa” não é originária de Marello, mas ele a repetia com freqüência no contesto de sua espiritualidade como haviam dito outros santos antes dele no contesto da própria espiritualidade, como São Vicente de Paulo que tinha como programa para seus missionários: ”Sede Cartuxos em casa e Apóstolos fora de casa”, ou como Santo Afonso, Pio Bruno Lanteri, Francisco Faà. Em suma, Marello propunha aos seus Oblatos uma vida comum, porém não vivida em modo comum, por isso, a máxima que procurava repetir sempre era: ”Sede extraordinários nas coisas habituais”.

143 - São José foi o Santo escolhido por Marello para o modelo de sua Congregação, por isso ele quis que seus Oblatos crescessem sempre mais, como São José, em todas as virtudes e também em seu culto. Das cartas que ele enviou aos seus Oblatos encontramos 25 delas que indicam especificamente a pessoa e os exemplos do Guarda do Redentor para  serem seguidos. Ei-las Cartas 95; 156; 158; 160; 161; 164; 167; 181; 183; 195; 201; 202; 203; 204; 206; 207; 208; 215; 221; 226; 227; 229; 242; 273. Além dessas encontramos outras cartas e escritos que contêm verdadeiros tesouros de pensamentos sobre São José como as cartas: 35; 62; 76; 78; 86; 163; 159; 170; 172;185; 198; 205; 210; 225; 234; 237; 248; e os escritos:  173; 228; 327; 227

144 - No final do ano de 1879, portanto a menos de um ano da fundação da Congregação, Marello fez uma peregrinação a Ars com o objetivo de entrar em contato com  os Irmãos da Sagrada Família, Congregação religiosa de leigos fundada em 1835 por Garbriel Taborim e presente em Ars desde 1849 a pedido do cura D’Ars para que fosse encarregada de um orfanato para meninos e como sacristãos na paróquia. Marello desejava observar o trabalho deles na Igreja, pois era esse o objetivo que tinha em relação à sua Congregação. Na ocasião Marello visitou o túmulo do santo cura que tinha morrido há 10 anos e adotou para os Irmãos a veste religiosa dos “Irmãos da Sagrada Família” para os seus Irmãos Oblatos já na primeira vestição religiosa realizada no dia 19 de março de 1879, com os seis primeiros membros de sua família religiosa. A veste era uma batina preta sem botões com uma faixa na cintura pendente para o lado esquerdo, um colarinho branco e um barrete preto.

145 - É certo que a primeira idéia do Fundador, apoiada por Dom Sávio, era aquela de preparar “jovens educados e instruídos com o objetivo de serem ótimos sacristãos, cozinheiros, catequistas, alfaiates, etc, para que pudessem ajudar os párocos, mas por falta de pessoas quase que imediatamente teve de modificar o objetivo e surgiu a Congregação como é atualmente, a qual teve início logo depois da morte de Dom Sávio”. Este é o testemunho do cardeal Giuseppe Gamba, testemunha de visu et de auditu sobre a origem da Congregação. Testemunha também o cônego Peloso, que foi secretário de Dom Marello: “Desejoso de corresponder perfeitamente à vontade de Deus, começou recolher jovens em comunidade para formar-lhes para a perfeição da vida cristã (treinando-os na pobreza, modificação, humildade e oração) e formá-los como bons catequistas  também bons sacristãos...”. Dissera também o cônego Ernesto Ponzio que Marello iniciou a Congregação dos Oblatos de São José para formar sacristãos, catequistas e colaboradores leigos dos párocos... Pe. Giovanni Viola afirma que: ”Como São José se dedicou ao serviço da Sagrada Família, assim no primeiro objetivo os nossos Irmãos deviam cuidar do decoro da igreja, ao canto e a  ajuda aos párocos nas sagradas funções e no catecismo...”. Por fim, Pe. Pozzi dirá: ”Se alguém me perguntasse qual foi o objetivo que o nosso Fundador quis dar ao seu instituto, respondo segundo a opinião de alguns, que a primeira idéia foi para formar bons sacristãos, os quais como São José, tomariam conta da casa de Deus...”

146 - A influência que Dom Sávio teve sobre o nascimento da Congregação foi muito forte, visto que ele como bispo ao fazer as visitas pastorais percebia a falta de decoro das igrejas e desejava prover pessoas para o cuidado delas com uma instituição. Por isso, Pe. Carandino afirma que Dom Sávio foi o “Avô da Congregação” porque foi ele quem aconselhou ao Marello a fundação: ”Sodales Josephini ab oblatione orti sunt... auctore Carolo Savio episcopo, et patre legifero Joseph Marello”. Para a nova Congregação Dom Sávio disponibilizou a sua herança.

147 - A primeira vestição religiosa dos Oblatos foi presidida no Michelerio pelo cônego Cerutti, o qual acolheu para a nova Congregação seis membros que na ocasião trocaram de nome; assim: Giorgio Medico tomou o nome de Irmão Giovanni; Pietro Luigi Beamino recebeu o nome de Irmão Teresio, saiu para casar e montou uma alfaiataria em Bellinzona, na Suíça; Vincenzo Franco passou a ser chamado Irmão Bernardo, este entrou no seminário de Asti e se  tornou sacerdote; Giuseppe Luigi Rey tomou o nome de Irmão Clemente, depois saiu e ingressou no seminário de Asti; Francesco Ponzo passou a ser chamado Irmão Leone e Giuseppe Cappussotto que tomou o nome de Irmão Giuseppe Maria, também esse saiu provavelmente por dificuldade nos estudos. Marello jamais fez uma vestição de seus Oblatos no Michelerio, mas sempre foram realizadas pelo cônego Cerutti, diretor desta obra que passou a chamar os Irmãos de “meus fradinhos”, tanto é verdade que em Asti estes eram chamados como os “fradinhos do cônego Cerutti”. Vale dizer que com a cerimônia da primeira vestiçao dos Oblatos, estes inauguraram em Asti um novo regime de vida, depois de 80 anos do desaparecimento prática da vida religiosa com o decreto de supressão do dia 29 de maio de 1855. Com esse decreto somente no Piemonte foram suprimidas 21 Congregações masculinas dentre as quais Dominicanos,  Servos de Maria, Capuchinhos, Beneditinos, Oblatos de Maria, Cistersenses, Carmelitanos descalços e calçados, Agostinianos descalços e calçados, etc. Foram suprimidas também; em 14 Congregações femininas dentre as quais Agostinianas, Beneditinas, Carmelitanas descalças e calçadas Franciscanas de Jesus, etc.

148 - Com a vestição dos primeiros Oblatos no dia 19 de março de 1879, essa pequena comunidade começou a ser conhecida e a notícia de sua existência chegou aos ouvidos de São Leonardo Murialdo, morto em 1900, o qual tinha fundado em Turim, em 1873, a Congregação de São José. Murialdo que sempre era muito atento às iniciativas assistenciais e sociais católicas que surgiam na Itália, tomou então a iniciativa de visitar os Oblatos em Asti, no dia 22 de julho de 1879.

149 - Em 1888 os alunos superavam a centena e juntando a estes aos órfãos abrigados na casa formava o número de 140 jovens instruídos pelos Irmãos. Em 1892 o número alcançou 160 e não podendo aumentar mais por falta de local, pensou-se na abertura de outro colégio. A Providência ajudou e seu adquiriu o Castelo de Frinco e ali se implantou uma extensão do colégio de Santa Chiara a partir de 1893 e com esta nova localidade os Oblatos passaram a ter 214 pessoas. Naquele anPe. Marchisio da Piccola Casa di Turin, juntamente com Dom Bertagna fizeram duas propostas ao Marello: “Ou os Irmãos Oblatos se uniam à Piccola Casa com tudo o que possuíam, ou pagavam a ela os gastos feitos em  Santa Chiara”. Diante da proposta Dom  Marello respondeu: ”Nesta união , não somente não vejo o maior bem para a Congregação, que me custou tantos sacrifícios à qual eu devo pensar, mas prevejo a sua destruição. Os Irmãos dificilmente vão renunciar aos estudos para se tornarem enfermeiros. A Congregação tem uma finalidade mais nobre, isto é, aquela de buscar a saúde das  almas,  e o Senhor até hoje  por isso a abençoou largamente, como atesta o seu desenvolvimento. Com a união pelo contrário aconteceria com ela aquilo que acontece com o rio Pó, que, no ímpeto da correnteza, entrando no mar, conserva um pouco de sua água, mas depois esta acaba para se confundir com o mesmo mar... Seu eu procurasse o meu comodismo diria para os Irmãos para se unirem e assim acabaria minha preocupação e problema, pois eu já tenho uma vasta diocese para governar, mas por ser fácil demais, esse projeto me parece não vir de  Deus”.

150 - Em 1883, os Oblatos considerados idôneos começaram a preparar-se para o sacerdócio. Isto aconteceu porque naquele ano entrou na Congregação Giovanni Battista Cortona, e tal fato foi interpretado por Marello como indício divino de que a Congregação deveria também ocupar-se do sagrado ministério à disposição do bispo. Como expressara o próprio Cortona mais tarde: “O Senhor disse ao Fundador – ‘ascende superius!” (sobe mais para o alto),  e abriu-se para os Irmãos o caminho para o sacerdócio, mesmo permanecendo aberto o caminho dos Irmãos leigos”. Por isso, a partir de fevereiro de 1884, os Irmãos abriram os livros e começaram a preparação pra o sacerdócio.

151 - As Constituições da Congregação de 1909 diziam: ”A Congregação consagra toda a sua atividade nas obras do ministério sagrado, como realizar missões, ajudar os párocos em dias de festas e em outras ocasiões de trabalho, receber dos bispos economatos espirituais das paróquias, fazer catequeses, aulas de religião, colégios, internatos, orfanatos e também toda obra que as circust6ancias requererem...”. Assumir as paróquias tornou-se uma necessidade quando ao assumir os Oratórios estes estavam ligados às paróquias e assumi-las dava mais liberdade para o trabalho, sobretudo com a juventude. Depois porque com as aberturas das missões das Filipinas e do Brasil, havia essa necessidade, por isso no Capitulo Geral de 1921 se estabeleceu que: “Em situações extraordinárias (de clero diocesano escasso e de pedido expresso dos bispos) os Josefinos aceitarão paróquias”. Contudo, o primeiro aspecto do carisma apostólico da Congregação foi sempre, como afirmou o Capitulo de 1923 “a educação e a instrução religiosa da juventude”. Olhando sempre para São José, o educador de Jesus e o homem operoso no serviço e na guarda de Jesus.

152 - No Regulamento da Congregação de 1892, afirmava-se que a Congregação “tem por finalidade dos jovens nas formas que Deus dispor” E ainda: ”Os sacerdotes trabalharão em obediência ao bispo, nas tarefas de administradores espirituais, de vigários paroquiais nos dias de festa, como capelões, na pregação e em todos aqueles serviços que a cada dia a Divina providência quiser revelar”.

153 - Os Oblatos eram solicitados por Dom Ronco para atender as paróquias sem párocos como “ecônomos espirituais”, assim testemunhou Pe. Barberglio:”O bispo de Asti mandava os nossos primeiros sacerdotes como ecônomos espirituais nas paróquias vacantes e geralmente naquelas mais pobres e as menores sem ter quase o direito de estola. Os confrades sempre deviam tirar dinheiro do próprio bolso para os gastos...”. Em vista disso Pe. Cortona consultou ao Fundador se não era conveniente obter da cúria a aplicação “pro populo”, ao que Marello lhe respondeu que era preciso suportar com paciência aquele peso. Um dia seria reconhecido os seus sacrifícios.

154 - A denominação “Casa Mãe” foi usada somente depois que a Congregação teve outras casas. A partir de então a casa de Santa Chiara fora indicada como a mãe de todas as outras e assim permanecera na história.

155 - Em Santa Chiara, o ex-teatro Porcelli, reconsagrado como igreja da casa se tornou um centro vivaz de culto. Por ocasião da novena do Natal, os Irmãos Benedetto e Bonfiglio organizavam os seus cantores, a cada ano sempre melhores, e ali as músicas místicas em gregoriano, os poderosos “Magnificat” polifônicos, os solenes “Tantum ergo” e as brilhantes pastorais ressoaram sob a direção de Pe. Rivellino e depois de Pe. Nebbia. Ali, no Sábado Santo, o Irmão Felipe Navone cantava o triunfal “Nabucodonosor Rex”.

156 - As paróquias vacantes foram uma das primeiras ocupações da Congregação, ainda quando Marello estava vivo. Antes da Concordata de 1929, entre a Itália e a Santa Sé, quando uma paróquia ficava vacante, o governo civil se arrogava o direito de gozar pelos menos de seis meses dos frutos da comunidade, por isso o bispo não podia nomear logo um pároco e então enviava para essas paróquias os administradores, ao qual o governo fazia um pagamento irrisório de aproximadamente uma lira por dia. Nesta situação os padres aceitavam de má vontade o trabalho nas referidas paróquias, por isso, os Oblatos se tornaram uma preciosa ajuda ao bispo de Asti, basta dizer que em 1883, um ano antes da morte de Marello, dos seis sacerdotes que a Congregação contava, cinco estavam encarregados desse serviço. Geralmente os nossos padres iam para essas paróquias aos sábados e voltavam nas segundas-feiras, levando consigo um Irmão. O percurso era quase sempre feito a pé e as distâncias variavam de 3 a 4 horas.

157 - Na mesma linha da ajuda ao clero diocesano os Oblatos desenvolveram o apostolado de ajuda nos dias festivos como confessores, pregadores e catequistas. Nesses dias os padres saiam para as comunidades debaixo da lama, da neve ou da poeira, caminhando horas a fio a pé ou de bicicletas entre as montanhas e vales no serviço às paróquias e capelas rurais. Pe. Savino relata que se caso esse serviço ao clero secular fosse abolido da Congregação sob o falso pretexto de cuidar melhor das próprias obras, seria sepultado um dos filões mais autênticos da identidade marelliana.

158 - Uma outra característica dos Oblatos nos primórdios da Congregação foi a ajuda aos párocos no ensino do catecismo e justamente na igreja de Santa Chiara logo que esta foi aberta ao público passou a funcionar uma escola de catecismo.

159 - O Asilo de Santa Chiara foi um prolongamento do Asilo Cerrato. Ao adquiri-lo, Marello o assumiu transferindo-o para Santa Chiara. Naquela época sem a conhecida previdência social as estradas andavam cheias de velhos mendigos e também de crianças e recolher essas pessoas, dar-lhes uma casa, um pouco de pão e de afeto era uma verdadeira obra de caridade. Manter esses abandonados não era nada fácil, tanto é verdade que nos dias de mercado pelas ruas de Asti os internos da casa iam ao mercado com carrinhos para recolher a sobra das verduras não vendidas para dar de comer aos pobres de Santa Chiara. Para solicitar a caridade as Irmãs do Cottolengo que trabalhavam nesta casa haviam colocado do lado de fora um cartaz no qual se lia: “Faça caridade aos pobres doentes crônicos”. Tal nome ficou em Santa Chiara e na língua do povo, algo que para alguns Oblatos aquela denominação: “doentes crônicos”, soava antipático, pois dava a impressão de humilhação e desprezo à Congregação. Evidentemente, os doentes de Santa Chiara eram mesmo dignos de piedade, pois eram os mais pobres entre os pobres, os mais miseráveis e os mais desprezados da cidade e da Província de Asti. Por causa disso alguns Oblatos se perguntavam se não era melhor separar o Asilo de Santa Chiara para acabar com aquela humilhação de serem chamados de “padres dos doentes crônicos”, ou eles mesmos, doentes crônicos. Entretanto, a Congregação viveu por muitos anos nesta simbiose de vida e de nome com o Asilo. Na verdade, esse fato é uma coisa que deve honrar muito os filhos de Marello, ele que por primeiro se empenhou e gastou muito do seu patrimônio para disponibilizar essa casa para os pobres, assim como nos é de exemplo Pe. Giovanni Cortona que passou no Asilo todo o tempo que não estava no confessionário e com os doentes  vivia, comia e morreu. É-nos de exemplo ainda o trabalho desenvolvido pelos s clérigos Oblatos nesta casa, os quais iam fazer a barba dos pobres velhos, assistir os doentes graves e fazer-lhes penosas limpezas e tendo-os como gente da mesma casa.

160 - Em Santa Chiara os Oblatos se dedicavam aos órfãos e as irmãs Filhas de Santa Ana às órfãs para um número que variava entre 40 a 50 assistidos desde os cinco até os 12 anos. Estes freqüentavam o estudo básico e quando terminavam arrumavam um emprego ou voltavam para suas famílias. Dentre os Oblatos encarregados dos órfãos estiveram os clérigos Carandino e os Irmãos Antonio Zappa e Lorenzo. Em 1904 a família dos órfãos foi transferida para a casa de Canelli, na diocese de Acqui; esta fora doada à Congregação por Pe. Francisco Sacchero. Na verdade, os orfanatos acolhiam adolescentes e jovens abandonados de suas famílias ou aqueles que apresentavam situações difíceis no nível pessoal e social. Pe. Carandino não era favorável a abertura de orfanatos e dizia que as casas a serem abertas deviam comportar o trabalho com a catequese, o Oratório festivo, a escola de canto mas não os órfãos. De fato o orfanato de Canelli funcionou apenas 22 anos sendo substituído por um seminário menor.

161 - Na verdade, eram acolhidos também Santa Chiara os alunos do ensino básico e os seminaristas, os quais eram entre 90 a 100(compreendendo alunos, seminaristas e órfãos do 3°, 4° e 5° anos do ensino básico). Todos, ao terminarem o estudo tinham um trabalho especifico ou eram enviados para as respectivas famílias. Os órfãos desde 1889, eram cuidados pelas Irmãs de Santa Ana, as quais faziam a comida, cuidavam da roupa, etc, e recebiam ajuda dos Irmãos Oblatos, os quais cuidavam da recreação deles, do estudo e do dormitório. As aulas eram ministradas pelos Oblatos em casa, mas os exames, nas escolas públicas. O primeiro encarregado dos órfãos de Santa Chiara foi  Pe. Carandino, depois o Irmão Antonio Zappa e em seguida o Lorenzo Franco. Em 1904 os órfãos foram transferidos para a casa de Canelli, a qual foi a primeira e a única aberta na  diocese de Acqui. Ali este orfanato funcionou até 1926 quando então a casa foi adaptada para seminário menor.

162 - Pe. Savino Vivaldi afirma que quando a Congregação dos Oblatos de São José tinha recebido o “decretum laudis”, isto é, a aprovação da Santa Sé, esta era constituída em grande parte por Santa Chiara com suas dependências em Frinco, no Michelerio, e na obra juvenil Fulgor em Asti, porém já começava a espalhar os seus ramos com os florescentes Oratórios de Trecate, Armeno, Pontremoli, Codogno e os orfanatos de Trino, Canelli e Figliano, assim como a direção  do seminário de Fossano e o cuidado em Alba de uma capela rural que depois se tornou o Santuário da Moretta.

163 - O trabalho com a juventude foi a marca característica dos Oblatos a começar com o Michelerio no ano de 1901. Depois foi o orfanato anexo ao Asilo de Santa Chiara, depois transferido para Canelli em 1904 e que funcionou até 1925. Vale lembrar que quando a Congregação se transferiu do Michelerio para Santa Chiara em 1884, além da catequese na igreja reconsagrada e o Asilo, funcionava também o colégio para a assistência dos jovens estudantes. Depois vieram os orfanatos de Trino Vercellese e de Figliano. É importante não se esquecer que por 12 anos, de 1903 a 1914, os Oblatos cuidaram dos seminaristas menores diocesanos de Cussanio (Fossano) sob a direção de Pe. Enrico Carandino e que rendeu daqueles alunos o cardeal Pellegrino, arcebispo de Turim.

164 - No trabalho com a juventude os Oblatos se dedicaram também aos Oratórios, sendo o primeiro deles o de San Giovanni, aceito por Pe. Cortona em 1895. Este teve logo um florescimento com a “Sociedade Fulgor”, que foi por muitos anos a única sociedade católica de Asti e que levou o nome desta cidade nos concursos internacionais de ginástica. O segundo Oratório foi confiado aos Oblatos pelo bispo de Pontremoli (Toscana), Dom Ângelo Fiorini, no ano de 1904. Esse trabalho com a juventude foi providencial, pois se dizia então que o esporte dos jovens pontremolenses era brigar formando grupos de bairros rivais. Neste Pe. Francisco Omegna montou uma banda marcial, Pe. Nicolau Praglia um coral e Pe. Gabri um grupo de teatro. Não havia festa na região que não estivesse presente o coral de Pe. Praglia e a banda de Pe. Omegna. Do trabalho Oblato neste Oratório resultou muitas vocações para a Congregação, dentre  vários lembramos os padres Luigi Mori, Savino Vivaldi, Mário Buttini, Giocondo Bronzini e os Irmãos Pietro Cuffini e Giuseppe Maestri. Na diocese de Novara os Oblatos dirigiram os Oratórios de Trecate (neste, os Oblatos trabalharam quase 60 anos e o sinal da vitalidade do trabalho neste Oratório foi o florescer de numerosas vocações tanto para a Congregação como para a diocese, inclusive dois bispos: Dom Tonelli, para a diocese de Pirerolo, e Dom Brustia, para a diocese de Andria. Além do mais, todos os quatro párocos que se sucederam em Trecate no tempo em que os Oblatos estiveram lá, se tornaram bispos). Outros Oratórios foram Armeno, Oleggio (neste último esteve presente Pe. Giuseppe Calvi, morto no Brasil em conceito de santidade), Castelleto Ticino, Varallo Sesia. No ano de 1909 foi aberto o Oratório de Codogno na diocese de Lodi e em seguida os Oratórios de Mirabello Monferrato, Certaldo (neste último trabalhou Pe. Afonso Rivellino, que tanto tinha entusiasmado em Asti com seus cantos e marchas). Em seguida vieram os Oratórios de Soncino, Mondovi, Salò, Pontevico, Este, Piacenza e Sesto Fiorentino. Na verdade, o período entre 1904 e 1925 pode verdadeiramente ser chamado da era dos Oratórios na Congregação.

165 - Dentre os primórdios do trabalho com os Oratórios deve-se destacar aquele desenvolvido na “Sociedade Fulgor” sob a direção de Pe. Felipe Berzano. Esta foi por muitos anos a única sociedade juvenil católica de Asti e conheceu seu tempo de glória tendo o seu nome aplaudido em Paris e em outras cidades da Europa onde a equipe de Ginástica Fulgor conquistou várias vezes prêmios internacionais. Esta depois de muitos anos de atividade veio a perder o seu atrativo, esvaído o fascínio da ginástica na qual se sobressaía, e somado ao nascimento de outras Associações católicas em Asti que vieram lhe tirar a exclusividade. Mas no lugar desta, com o mesmo nome de Fulgor, surgiu um grande colégio, onde a Congregação, de outra forma, continuou a educação religiosa da juventude de Asti. Por fim, depois de ter deixado o Oratório São Giovanni ( durante a guerra por falta de pessoal), o primeiro assumido pela Congregação, Pe. Giovanni Cortona, logo depois do fim da guerra, mandou construir para que servisse como salão e capela, um edifício que depois se tornou a parte central da tipografia São José e abriu o Oratório denominado São Luigi. Nele trabalharam, dentre outros, os padres. Giovanni Viola, Emílio Martinetto e Carlo Ferrero (os últimos dois depois se tornaram missionários no Brasil).

166 -  Desde o ano de 1892 havia a necessidade de levar uma parte dos que ocupavam o grande complexo de Santa Chiara para um outro lugar visto a variedade de comunidades ali convivendo (clérigos, seminaristas menores, alunos, órfãos..); surgiu dali a possibilidade de se adquirir o  Castelo de Frinco, distante 18  quilômetros de Asti. Tratava-se de um Castelo medieval tendo como seu proprietário o marques Vittorio Incisa de Camerana, mas o mesmo estava hipotecado junto a “Cassa di Risparmio” de Ivrea, por 12.500 liras. No dia 30 de maio de 1893 ele foi comprado pelo valor da hipoteca. O edifício estava com vários estragos e precisava de reformas, contudo era habitável e vinha a responder às necessidades de mais espaço, pois oferecia 90 quartos. No dia 29 de junho do mesmo ano, depois de um intenso trabalho de limpeza e restauro, o Castelo foi inaugurado com o concurso dos habitantes de Frinco e a organização de uma procissão com a imagem de São José em volta de todo o Castelo, a qual foi depois colocada na porta de entrada principal deste, resgatando desta forma o valor deste imóvel que, abandonado, tinha tido as suas amplas salas  transformadas em depósito de grãos e para o cultivo do bicho da seda. O pároco de Frinco, Pe. Conti, esforçou-se muito para que os Oblatos adquirissem este imóvel pois era um ícone para a cidade e merecia ser revitalizado, por isso era o mais contente da presença dos Oblatos, afirmando que estes, com a implantação do Colégio Sagrado Coração neste local “deram e darão prosperidade e fama ao município de Frinco... Esta, eu acredito, é a obra mais louvável de minha vida.... O funcionamento do Colégio do Sagrado Coração em Frinco é a mais grandiosa obra da qual tenho orgulho de ter contribuído no exercício do meu ministério paroquial... Devido a isso esta cidade de Frinco se distingue dentre todas as outras da diocese Astese, pela razão do pároco estar sempre ajudado no exercício do seu ministério por sacerdotes e clérigos ali residentes e na administração dos santos sacramentos, na pregação, na liturgia com majestosos cantos e sons do armonium. Aqui os clérigos darão o catecismo para os jovens da paróquia e por meio das venerandas irmãs della Pietà, residentes também elas neste Castelo, se ensinará a doutrina a todos as jovens”. Pelos esforços de Pe. Conti e pelos méritos de ter contribuído para que os Oblatos tivessem esse Castelo, ele recebeu do prefeito de Frinco, Carlo Cavallero, o título de “Cidadão benemérito – Pai do município de Frinco”.

167 - O Castelo de Frinco era distante de Asti aproximadamente 18 quilômetros. Foi adquirido por Marello no dia 30 de maio de 1893. No ato de sua aquisição ele estava muito em desordem devido um terremoto ocorrido em 1887, porém valia a pena, pois além de possuir 90 quartos que resolviam o problema de mais espaço de Santa Chiara, era um lugar agradável. Foi preciso bastante tempo para colocá-lo em ordem, tanto é verdade que somente no dia 29 de junho foi possível inaugurá-lo no qual, na sua entrada foi colocada uma bonita estátua de São José com a inscrição: ”Posuerunt me custodem”. Esta foi transportada em procissão com a participação inclusive do povo do lugar.

168 - No mesmo ano, passaram a residir nele 25 seminaristas do 3° e 4° ensino básico tendo Pe. Carandino como superior e Pietro Bianco, futuro Superior Geral da Congregação, como assistente. A capela dedicada ao Sagrado Coração de Jesus foi organizada na sala mais bonita do Castelo a qual foi decorada por um pintor de Asti e embelezada com um afresco de Nossa Senhora, pintado por Natale Brussasco, futuro  missionário no Brasil. No Castelo funcionou um Colégio “Colégio Sagrado Coração”. As atividades neste Castelo permaneceram até 1909 sendo depois retomadas entre os anos de 1949 a 1957, quando então este foi vendido e os seminaristas passaram para a casa de Vila Quaglina. Na verdade, o Castelo de Frinco fez parte importante da história da Congregação pois nele aconteceu o primeiro noviciado canônico dos Oblatos, tendo como mestre Pe. Luigi Garberoglio. Além do noviciado, também ali foram acolhidos os estudantes de filosofia e de teologia

169 - Do Castelo de Frinco alguns reclamava pelo clima do lugar com seus fortes ventos levando em conta os longos invernos sem o aquecimento da casa e com seus vastos salões expostos ao vento e ao frio, mas servia muito bem para o período de férias dos clérigos e dos seminaristas menores de Santa Chiara. Do Castelo podia se contemplar um panorama magnífico, o Vale de Versa, as colinas revestidas de parreirais, coroadas de cidadezinhas e de Castelos, além da branca coroa dos Alpes. Pe. Savino Vivaldi, não com um ar de nostalgia lembra deste Castelo com estas palavras: ”Agora tudo acabou!, o velho Castelo, o segundo ninho de nossa infância religiosa. Não ressoam mais os cantos, as orações e os gritos alegres da juventude marelliana. Entre as paredes desacralizadas cacarejam as galinhas e brigam os galos...Se um dia fosse disperso entre nós o espírito de oração, o recolhimento, a humildade, a obediência, a pobreza, à nossa Congregação, sucederia como ao Castelo de Frinco: alienados os valores  fundamentais, a Congregação não seria mais que um tétrico albergue de pessoas inúteis e descontentes”.

170 - O último escrito de Marello que permaneceu foi a resposta dada ao Pe. Demetrio Poggio, reitor dos Escolopianos de Ovada, o qual o convidou para a celebração do 3º centenário da morte de São Felipe Néri, na igreja dedicada a este santo, em Savona. Não sendo possível a presença de Dom Giuseppe Borraggini, bispo daquela diocese, este sugeriu que convidasse Dom Marello o qual aceitou de bom grado respondendo ao convite no dia 21 de maio de 1895 com estas palavras: ”Aceito com prazer a grata proposta, a qual vem ao encontro do meu desejo de gozar de sua hospitalidade e da afável companhia dos bondosos padres Escolopianos e ao mesmo tempo me dá a oportunidade de oferecer os meus obséquios a excelentíssimo bispo desta diocese”. Na manhã do dia 25 de maio, antes de partir para Savona, Marello não estava bem e foi desaconselhado de viajar pelo seu secretário Pe. Peloso, mas devido à palavra dada aos padres Escolopianos não seguiu o conselho de seu secretário e até lhe disse: “Vamos à Savona para a festa de São Felipe Néri e se for o caso, se morre”. Em Savona cumpriu todas as suas obrigações com muita dificuldade, mas no dia 30 de maio morria com 50 anos, 5 meses e 5 dias. Desde a fundação de sua Congregação no dia 14 de março de 1878 até o dia de sua morte tinham sido transcorridos 17 anos 2 dois meses e meio e sua Congregação contava com 6 sacerdotes, 41 estudantes, 15 irmãos leigos, num total de 62 membros.

171 - A causa de sua morte, segundo atestou o Pe G. Rabino, possivelmente foi por hemorragia cerebral visto que naqueles dias ele sentia sobre que sobre a sua cabeça parecia que tinha um peso de chumbo. Na cabeceira de sua cama foi encontrado o livrinho “De imitatione Christi” assinalado no capítulo “De gloria coelesti”. Junto consigo trazia poucas liras. No dia 1º de junho, depois da missa de exéquias celebrada na Catedral de Savona em meio a uma forte chuva, seu corpo foi transportado até a estação ferroviária de Savona para ser levado para Acqui onde chegou à tarde e foi exposto na capela da cúria episcopal para a visitação do povo até o dia 4, sendo depois transportado até a Catedral depois de passar pelas principais ruas da cidade. Na Catedral Dom Re, bispo de Alba, celebrou a missa solene das exéquias. Por fim transportado ao cemitério de Acqui sendo sepultado na terra ao lado de Dom Giuseppe Sciandra, seu predecessor na capela reservada aos bispos. Um dos padres presentes no seu sepultamento testemunhou que enquanto o caixão era colocado no túmulo, duas bonitas pombas brancas voaram sobre a capela e permaneceram lá até ao término da cerimônia, não obstante o constante movimento das pessoas.

172 - Depois da sepultura de Marello foram celebradas muitas missas nas paróquias da diocese de Aqui e de Asti e uma das primeiras foi celebrada na capela do seminário de Aqui. Celebrou-a Pe. Giuseppe Salvi, professor do mesmo seminário, o qual delineou a vida de Marello com um esplêndido elogio fúnebre nestas palavras: “Giuseppe Marello foi um meteorito luminoso que brilhou diante de nossos olhos e desapareceu, mas no seu breve aparecimento nos roubou o coração e nos obrigou a amá-lo como um amigo conhecido de muitos anos. Por quê? Porque um conjunto de virtudes, escondidas, mas difíceis de serem praticadas, enfeitava o seu belo coração e o tornava amável a todos... Acredito ser supérfluo pedir para constatarem a sua piedade, a qual sabemos o quanto foi vivaz, mas tenho a alegria de elucidar-lhes três de seus dons preciosos porque são muito raros: a sua docilidade, a sua delicadeza de sentimento e a sua observação ciosa de todo segredo...Estas três qualidades eram seus dons incontestáveis...”.

173 - A epígrafe latina colocada debaixo do retrato pintado na cúria episcopal de Acqui dá o seguinte testemunho de Marello: ”Joseph Marello /Domo S. Martini ad Tanarum/ crea. Ep. Aquen. Na. MDCCLXXXIX / Mitis – Prudens – Xti Caaritate flagrans/ Cunctis – Deflectus – Obiit – Na. MDCCCXCV Aetatis LI/ Rexit Ecclesiam Suam An

Essa epígrafe foi substituída em 1923 por ocasião do translado de seus restos mortais para Asti com os seguintes dizeres: “1889 Josephus Marello / Oppido S. Martini ad tanarum. Animo mitissimus – anismosque pacandi mira virtute praeditus. Pro senibus – auxilio destitutis – Hospitium erexit. Astae – Pompejae Congr. Istituit a S. Joseph noncupatam. Cr. Ep. Aquens. an. 1889. Vultus et eloquii – suavitae omnibus acceptissimus. Savonam – sacri ministerii causa profectus morte – correptus fuit anno 11895 aetatis 51 – In Domo Príncipe suae Congregationis – Astae Pompejae requiescit ab anno 1923” ( 1889 Giuseppe Marello – De San Martino Tanaro – manso – maravilhoso pacificado das almas – para os pobres idosos abriu um Asilo – Fundou em Asti a Congregação de São José  - Tornou-se bispo de Acqui em 1889 – com o sorriso e a palavra tornou-se agradável para  todos – Dirigindo-se em Savona por razões do seu ministério – morreu no ano de 1895 – com 51 anos de idade – Repousa em Asti na Casa Mãe da sua congregação desde 1923).

174 -  No dia da morte de Marello o jornal de Asti, “Il Corriere Astigiano”, publicou a notícia de sua morte com estas palavras: “...prelado douto e modesto, benéfico e prudente que formava o decoro do episcopado piemontese e a admiração de todos os que o viram também se somente uma vez...” O jornal de Savona, “Letimbro”, dirá:”A morte de Dom Giuseppe Marello é luto para a igreja subalpina, da qual era ornamento, para a diocese de Acqui, da qual era pastor e pai, para Turim, da qual era preclaro cidadão”.O jornal de Acqui, “La Gazzetta d’Acqui”, também noticiará: “Sacerdote de índole cordial, perfeito gentil-homem, bondoso no coração como na sua maneira, exemplo de modesta virtude... Nos poucos anos em que dirigiu a importante diocese foi venerado e amado pelo clero, sempre benquisto pelo povo que apreciava muitíssimo as suas qualidades”.

175 -  A última carta escrita pelo Fundador aos seus Oblatos foi dirigida a Pe. Cortona, datada de 4 de março de 1895. O último parágrafo desta carta aconselhava aos Oblatos a “Animarem-se todos, sob o manto paterno de São José, lugar de ótima segurança, nas tribulações e angústias”. Nesta, o Fundador exprimia as aflições que tinha em seu coração quanto a questão de Santa Chiara com a Piccola Casa e da angústia que os Oblatos viviam dentro de um clima de bisbilhotices e de crítica que estavam se difundindo em Asti, a ponto que os Oblatos pensavam em se retirarem de Santa Chiara para poder viverem tranqüilos.

 176 - Em 1900, cinco anos depois da morte de Marello, Pe. Giovanni Battista Cortona era responsável por 20 sacerdotes Oblatos, 24 clérigos, 22 noviços, 13 Irmãos, 29 seminaristas. Somados as Irmãs e os internos, Santa Chiara tinha uma população de 342 pessoas.