2 - No Seminário

José Marello – fotografia com seus amigos
no castelo de San Marino. Olhando da esquerda:
Estevão Delaude, José Riccio, José Marello,
o teólogo Paulo Elias, Estevão Rossetti
e Egidio Motta.
No Seminário

São José Marello, uma vida exemplar e edificante
Capítulo 2
 
16 - No dia 31 de outubro de 1856, Marello entrava no seminário de Asti com a determinação de ser padre. No dia 9 de novembro do mesmo ano, recebeu a veste religiosa e iniciava os estudos juntamente com outros 25 seminaristas, tendo como assistente Giovanni Boeri, como reitor do seminário o cônego Guilherme Odetti de 92 anos de idade, esse como já era idoso tinha o vice-reitor, o cônego Carlo Vassallo. Os seus amigos de classe eram particularmente Stefano Delaude, Giuseppe Riccio, Giuseppe Fagnano, Tiago Gay.

17 - Desde a renúncia do bispo, Dom Ártico, estava como Vigário Capitular Pe. Vitaliano Sossi, o qual recebeu de padre Bosco que, conhecendo as dificuldades de Asti, lhe escreveu propondo o seu Oratório de Valdocco, em Turim, como lugar de formação para os seus seminaristas. Por isso, em outubro de 1860, 20 seminaristas de Asti foram prosseguir seus estudos no Oratório de Valdocco, guiados por padre Bosco. Dentre estes estavam os amigos de Marello, mas ele não estava com eles, ficou com uma família em Asti e freqüentava o curso de filosofia no bispado. Naquele ano ele iniciou o primeiro ano de filosofia em Asti, tinha 17 anos. Durante este período elaborou uma dissertação escolar em latim perfeito sobre “Concordância que deve haver entre razão e a Revelação”, demonstrando conhecer os pensadores céticos, os fideistas e os racionalistas como Kant, Fichte, Hegel, etc.

18 - No mês de março de 1859, o seminário de Asti foi ocupado por militares do décimo primeiro regimento de infantaria e, em maio do mesmo ano, este foi transformado em hospital militar, obrigando os seminaristas a se retirarem dele, mas Marello conseguiu um lugar numa família de Asti e não voltou para casa.

19 - O seminário ficara ocupado pelos militares até o ano de 1865 e durante esse período Marello viveu sem comunidade, acompanhou a renúncia do bispo de Asti, a morte do reitor do seminário, Pe. Odetti, etc. Isso lhe trouxe um arrefecimento no seu entusiasmo. A prova do seu desânimo é que o seu pároco, Pe. Torchio ao enviar ao reitor do seminário, no dia 24 de outubro de 1859 um relatório sobre ele enquanto passava suas férias em San Martino dissera: “... devendo referir, segundo a minha consciência, sobre o comportamento de Marello, dói-me na verdade por não poder elogiá-lo muito ao senhor. Achei-o assíduo até certo ponto às funções paroquiais, raramente o vi receber os sacramentos...”.

20 - A causa da saída de Marello do seminário foi sem dúvida a ocupação deste pelo 11º Regimento de Infantaria, por causa da II Guerra Mundial, fato este que obrigou todos os seminaristas a deixá-lo e, com isso, Marello passou a ter aulas numa sala da diocese morando junto a uma família. Não é possível saber com precisão em que família ele passou a residir por mais de três anos, provavelmente, foi numa propriedade da diocese, na Avenida Giobert N. 11, a qual era alugada para algumas famílias. Esses anos em que passou fora do seminário contribuíram para esfriar o seu fervor. A comprovar isso temos o relatório de suas férias enviado pelo seu pároco, Pe. Torchio, em data de 24 de outubro de 1859. Nesse, o pároco dizia que não tinha nada para reprová-lo em matéria de moral, todavia dizia que até então não tinha tido a consolação de admirar nele o amor pela Igreja e a diligência na observância da regras que manifestavam o bom exemplo ao povo. Salienta também que tinha visto pouca assiduidade dele aos sacramentos.

21 - Durante os anos de 1859 a 1861, em que ficou morando fora do seminário, mas estudando nele, freqüentou o primeiro ano de retórica que correspondia ao primeiro ano do ensino médio e outros dois anos de filosofia, uma matéria de que gostava muito, inclusive traduzindo do latim para o italiano grandes autores como Cícero e Horácio. De fato, o cônego Carlo Vassallo, Vigário Geral, dissera dele, então seu chanceler, que redigira os documentos da Cúria “currente calamo”, sem necessidade de alguma correção. Nesse período se pode notar em Marello certo eclipsar ou resfriamento dos valores do espírito e a tendência a novos interesses, agitados pelas suas excelentes capacidades. É comum encontrar em seus cadernos interpolações pessoais de outros gêneros, como frases em italiano cheias de retórica ou com certas exaltações de si, como a que escreveu, mas depois a cancelou, sobre a capa do seu caderno do ano de 1860: “Não se resolverão os problemas da Itália, sem a interferência do sábio José Marello“(Non si tratterà gli affari dellÍtalia se non si frammischia il saggiMarello G) ”. Aqui e ali sobre seus cadernos ou até sobre a primeira página de um livro de oração, aparecem desenhos estilizados onde se pode identificar o rosto de Vittorio Emanuelle II, ou mais freqüente de Garibaldi, herói que exercia muito fascínio sobre os jovens daquela época.

22 - Por causa da ocupação do seminário pelos soldados, os seminaristas de Asti durante o ano escolar de 1860-1861 foram enviados para estudos ao Oratório São Francisco de Sales de Dom Bosco, em Turim, devido situação incômoda de que estes estavam espalhados pela cidade, mas Marello, como afirmamos não foi para Turim e uma das razões transmitida pelo seu próprio professor, Pe. Giovanni Battista Francesia, é que o pai de Marello não o deixou ir, como foram seus colegas e por isso permaneceu em Asti freqüentando a filosofia no seminário e morando junto a uma família. Neste novo estilo de vida continuava com suas notas ótimas, mas manifestava um lento declínio espiritual, até que no final do ano escolar de 1861-1862 decidiu abandonar o seminário.

23 - Em Turim Marello encontrou a presença forte da maçonaria e um ambiente de ceticismo que somavam aos seus sonhos de um futuro na sociedade, fato esse que o fizera “Saltar o Rubicão”. Ali na nova realidade sentira as emoções dos meetings das lojas maçônicas e das amizades políticas. Ali, escreverá ele no ano de 1866: ”cessando de ser para Deus começou a viver por um ídolo de carne e depois por um ídolo bem mais ciumento e exigente: a ambição”. Não desejava outra coisa que o “Apostolado humanitário”. Tinha em mente um propósito a alcançar a começar com o jornalismo, depois à tribuna popular, depois ao proselitismo doutrinário e por fim ao proselitismo prático com o início de um novo sistema de economia social. O aceno que fez sobre um ídolo de carne, conforme o testemunho de Pe. Pietro Peloso, seu secretário, que ao fazer os espólios das suas cartas (depois da morte) encontrou um recorte de teor juvenil em forma de poesia, escrito quando se encontrava em Turim, depois de sua saída do seminário. Era uma poesia que não tinha nada de imoral, mas dava a impressão de um apego a uma moça. O próprio Marello escreverá (carta n.10) ao seu amigo Delaude, no ano de 1866 que era preciso combater um grande inimigo da sociedade daquele tempo: o “demônio da concupiscência”. Dissera ao seu amigo: “caro amigo, sei que coisa eu vi com os meus olhos e posso te dizer, por uma experiência dolorosa”.

24 - Morando juntamente com seu pai Vincenzo, Marello estudava numa escola técnica, em Turim, cursando a formação agrimensor. Essa sua opção de estudo indica que não estava por fora das solicitações daquele tempo em que se sentia muita necessidade de preparar técnicos para a era industrial. Ao mesmo tempo demonstra que brilhante era na literatura italiana e latina, Marello tinha também propensão para a matemática e para o desenho. Admirado com sua capacidade neste campo o engenheiro Luigi Bechis conhecedor ao mesmo tempo das suas potencialidades, propôs-lhe para ser seu sócio e de fato até chegou, enquanto trabalhava com ele, a desenhar um mapa da estrada que devia coligar San Martino com San Damiano d’Asti, encurtando a estrada.

25 - Em Turim, Marello fora do seminário, não se encontrava tranqüilo justamente porque estava no meio de tanta corrupção e do desvirtuamento da grande maioria dos jovens, contudo mantinha uma vida exemplar, tanto que o engenheiro Bechis que bem o conhecia lhe teria dito que não era feito para o mundo, mas para ser padre. Na verdade, ele não estava contente e Bechis que tinha entendido a razão de sua tristeza o aconselhava a voltar para o seminário. Juntamente com esses agravantes, veio-lhe facilitar a volta ao seminário a sua doença, quando aos 19 anos, em dezembro de 1863, foi acometido de tifo, doença que naquela época era praticamente impossível de ser curada.

26 - Na metade de 1862, por ocasião da inauguração, em Asti, de um monumento ao poeta Vittorio Alfieri, foi promovido na cidade um concurso literário entre os estudantes e deste Marello participou, desenvolvendo um tema sobre este grande poeta italiano em nome de um seu colega ex-seminarista o qual apresentado em nome deste jovem venceu o primeiro lugar. Toda a glória foi para esse seu amigo que além de mostrar a dimensão da capacidade literária de Marello, mostrou também a sua modéstia e a sua bondade.

 27- Quais foram as razões que levaram Marello deixar o seminário? Foi um conjunto de situações, particularmente o seu esfriamento na piedade, a exaltação da retórica quando em contato com os clássicos, com os novos pregadores políticos e humanitários, a sua inteligência aberta a novos interesses, a tendência pessoal para se sobressair sobre os colegas, a certa presença dominante de seu pai, o descontentamento e a desconfiança diante de alguns acontecimentos que se observava por parte do clero secular. É preciso notar que a sua crise começou com o início da Guerra quando cessou o esquema de vida de seminário e, assim, passou-se a diminuir a oração e ao mesmo tempo o contato com o mundo exterior se tornou mais intenso. Padre Giovanni Battista Cortona afirma que Marello deixou o seminário por vontade do seu pai que o queria encaminhado para o estudo secular. Contudo, seu irmão, Vittorio afirmou que o pai preferia que Marello tomasse outra carreira, mas jamais lhe fez pressão e nem o mesmo o contradisse. Na verdade, o desejo de seu pai foi uma das razões, mas não aquela determinante.

28 - Os colegas de Marello relatam que ele não praticava muito o esporte, mas gostava muito do jogo conhecido como bola elástica, um jogo muito comum na sua região do Piemonte, mas mesmo quando bispo não dispensava um bom jogo de bochas.

29 - Um detalhe importante na vida de Marello era a sua memória prodigiosa, pois bastava que ele visse a pessoa uma vez e não mais se esquecia dela.

30 - Marello gostava de contar anedotas em suas conversas. Lembremos uma delas: ”Dois caipiras vão à missa solene, por volta do meio-dia, e ao perceber que o padre ainda estava no seu longo sermão, decidem ir ao boteco mais próximo e lá, conversa vai, conversa vem, depois de uma boas doses de pinga os dois se lembraram da missa, mas quando chegaram à igreja ouviram o toque da campainha para a bênção do Santíssimo, então um olha para o outro e diz: ‘Viu, estamos ainda no Santo”.

31 - Desde criança tinha uma sensibilidade grande pelos mais necessitados; de fato, o seu irmão Vittorio conta que ele freqüentemente provava apenas do café da manhã para dar aos mais necessitados. Sendo muito bondoso, era também generoso em matéria de dinheiro para ajudar seus colegas dentro do seminário. Seu pai docilmente lamentava-se quando todas as quartas-feiras ia visitá-lo no seminário de Asti e o deixava com os bolsos vazios e lhe dizia: ”Zezinho, você me esvazia sempre os bolsos”. Não era somente com dinheiro que socorria os companheiros, mas também com roupas de cama.

32 - Os colegas de escola de Marello foram unânimes em afirmar que ele era brilhante nos estudos e isso também era motivo de orgulho para seu pai. Dois de seus colegas Bussolino e Solaro atestam que ele tinha somente dez anos e grande capacidade intelectual, superior a deles. Este seu brilhantismo nos estudos ele o demonstrara nos anos seguintes, tanto que ele próprio devera se cuidar para não cair na falta de humildade. De fato, ele advertiu esse perigo quando escreveu em seu caderno as seguintes palavras: ”Uma lamparina cheia de óleo iluminava, e era soberba, mas pela sua luz que quase parecia ser mais viva que a luz do sol, veio um vento e a apagou. A fábula admoesta os meninos e as meninas que se ensoberbecem da própria beleza”.

33 - Por possuir uma inteligência brilhante, Marello era exemplar e muito capacitado nos estudos. Lia e estudava os autores latinos, como Cícero e Horácio e fazia traduções excelentes da língua latina. Suas notas do final do ano escolar de 1860 foram ótimas e do latim ao italiano variaram entre oito e dez. Aos 16 anos poderia se dizer que Marello era um bom latinista e um cultivador do falar bonito, atento a tudo o que acontecia na Itália naqueles anos. Em diversas páginas de seus cadernos ele escrevia pensamentos citando Alfieri, Filicaia e outros pensadores. Era ciente de sua inteligência, tanto é verdade que em uma das páginas de um de seus cadernos escreveu uma frase exaltando suas capacidades mas depois, certamente, pela sua humildade se encarregou de rabiscá-la.

34 - Seu irmão, VittoriMarello casou-se com a primeira mulher chamada Luisa a qual morreu logo em seguida, em 1892 sem deixar-lhe filhos. Foi prefeito de San Martino Alfieri pela primeira vez aos 30 anos de idade, sendo reeleito por 40 anos seguidos e depois prefeito honorário até a morte. Recebeu o título de Cavaleiro honorífico e foi declarado o prefeito da Itália mais idoso na função. Sua fotografia está exposta na sala principal da prefeitura de San Martino Alfieri com as palavras: ”Marello Cav. Vittorio que por um cinqüentenário de anos foi prefeito de San Martino Alfieri. A Prefeitura”. Marello tinha um bom relacionamento com o irmão e não deixava de dar-lhe conselhos como os que se encontram numa carta escrita a ele no ano de 1876 ( carta N. 91bis). Nesta, pedia-lhe para que quando fosse a Turim que não deixasse de visitar o Santuário de Nossa Senhora da Consolação e que rezasse por todos. Sua filha, Josefina, declara que seu pai ia frequentemente a Turim com ela e as outras duas suas irmãs e que com os parentes ia à missa na igreja de São Lourenço, na Catedral ou no Santuário de Nossa Senhora da Consolação e sempre fazia uma visita à igreja de Corpus Domini, igreja em que ele e Marello foram batizados. Portanto, Vittorio era um homem religioso e honesto.

35 - Dos livros que influenciaram a formação espiritual e cultural de Marello conhecemos apenas alguns, porque muitos desses foram perdidos, mas se destacaram, quando ele ainda era criança, a “Coleção de Orações Devotas”, datada de 1851. Outro, datado de 1852, foi um livrinho de oração que tinha o título “Alimento dos fieis ao assistir à Santa Missa”. É interessante que nas páginas brancas iniciais deste livro Marello caricaturou Vittorio Emanuelle II e Giuseppe Garibaldi com seus grandes bigodes, indicando desta forma os novos interesses que iam amadurecendo nele no tempo das conquistas de Garibaldi.

36 - No tempo em que estudava teologia utilizava e carregava um Novo Testamento de bolso no qual procurava alguns versículos para meditar todos os dias.

37 - Sendo um apaixonado por literatura, fez parte do repertório de suas leituras de férias os livros “O Telêmaco” de Fenelon; “Os mártires do Cristianismo” de Chateaubriand; os “Sermões” de Massillon; “Os Pensamentos” de Pascal; “Os Noivos“ de Alexandre Manzoni; as “Confissões” de Santo Agostinho, a “Vida de Santa Maria Alacoque”,os livros de Gioberti e dos de Balbo.

38 - Durante os anos de seu presbiterado e de seu episcopado fizeram parte de suas leituras a “Summa Theologica” de Santo Tomás de Aquino; a “Filotéia”, os “Colóquios Espirituais” de São Francisco de Sales; a “Regra” de São Bento; as “Homilias” de São Giovanni Crisóstomo; o “Maná da Alma” de Segneri; “O Combate Espiritual” de Sculpi; “O Grande meio da Oração” e “Prática de Amar Jesus Cristo” de Santo Afonso; as “Máximas Espirituais”de Rosmini; as “Conferências de Notre Dame” de Lacordaire; as “Conferências Espirituais”de padre Faber; o “Tratado da Verdadeira Devoção” de Montfort; a “Vida de São Jerônimo” de Bougaud; a “Vida de São Carlos” de Sylvain; o “Dicionário Histórico” de Moroni; a “Imitação de Cristo”, livro que carregava consigo e que foi encontrado no seu leito de morte com o marca-páginas assinalando o capítulo “De gloria coelesti”. Fizeram parte de suas leituras também as Obras de Santa Tereza e de São Giovanni da Cruz.

39 - Em novembro de 1865, o seminário diocesano onde Marello tinha iniciado os seus estudos foi restituído, depois de seis anos de ocupação pelos soldados da guerra, à diocese. Esse acontecimento foi uma ocasião propícia para Marello fazer a sua recuperação espiritual depois da experiência em Turim. Foi para ele um período fecundo em que se amadureceram muitas coisas boas em sua vida. Eram as aulas, a disciplina do seminário, as orações. Nos estudos ele se despontava entre os seus colegas, porém, jamais fazia pompa disso. Era muito estimado pelos colegas e tido como um dos melhores companheiros. Tudo isso ele conquistou também com um programa ascético e de interioridade.

40 - Quando clérigo, Marello, em data de 15 de novembro de 1866, escreveu para si aquilo que denominou de “Norma Agendorum”, ou seja, propósitos para serem cumpridos todos os dias. Estes se resumiam na participação diária da missa, na meditação, na atenção às orações, na leitura de textos da bíblia, no recolhimento, na atenção à leitura na hora do almoço, na reza do rosário, não combate à soberba, na oração antes de dormir, no exame de consciência, no afastamento dos maus pensamentos, etc. Em janeiro de 1867, assumira o empenho com normas mais concretas de comportamento e que ele denominará de “Regra de Vida”, com a qual se empenharia em observá-la, tendo a oração como o meio seguro de perfeição e o fundamento de todas as atividades. Por isso, de manhã, o primeiro pensamento que propunha era dirigido a Deus. Depois, um rigoroso silêncio na igreja, empenho nos estudos; exercício da temperança à mesa e às vezes mortificação. Antes de dormir fazer exame rigoroso de consciência (cada dia consagrar cinco minutos para examinar o profectum e o proficiendum, ou seja, o progresso feito no dia e aquele ainda a ser feito), a reza do Miserere de joelhos, a invocação à Virgem para obter pureza de afetos e a invocação aos anjos e santos.

41 - Seu programa espiritual a ser desenvolvido, contemplava o propósito de colocar como luz para a sua vida a Palavra de Deus. Escrevia ele no dia 21 de janeiro de 1868: ”Antes de dormir quatro versículos do ‘Testamentino’ (Novo Testamento de bolso) para ruminar”. Esse livreto se encontra no museu da Congregação dos Oblatos de São José em Asti. Na página de rosto deste, encontra-se a assinatura dele quando ainda menino.

42 - A leitura da vida dos santos também foi um meio muito eficaz para Marello. Aconselhara ele ao seu amigo Delaude, no ano de 1866, (Crf Carta N. 10) para se exaltar nos grandes modelos e disera a si mesmo a célebre frase de Santo Agostinho:”Se estes conseguiram por que então também eu não?”(Cfr Carta N. 9). Depois de ter lido a vida de Santa Margarida Maria Alacoque dirá a si mesmo: ”...minha mente será sempre voltada para Vós... - Nunc coepi – agora começo meu Deus, minha mãe, meu protetor São José... Agora começo, eu abandonarei o costume da minha prevaricação. Agora começo. Eu me encaminharei pela estrada do céu, seguindo as inspirações que Vós ma fareis resplandecer lá de cima...”. O jovem Marello tinha 23 anos quando escreveu esse propósito.

43 - Sempre estudioso, ele demonstrara o seu amor pelos estudos ao escrever ao seu amigo Rossetti, no final do ano de 1866, (Cfr Carta N. 4) na qual afirmava que tinha recolhido no decorrer dos últimos três anos um bom material e com este estava examinando as chagas da sociedade a fim de elaborar um livro. Seria uma obra de caráter prevalentemente ético-social, mas tomado depois por outros afazeres nunca pôde realizá-lo. Além disso, pode ter existido uma outra razão para Marello não prosseguir no seu intento de elaborar um livro: trata-se da figura de Vincenzo Gioberti, escritor e sacerdote de Turim, do qual Marello meditou bastante os seus escritos que lhe indicavam a falta da prudência e da humildade. De fato, Cavour ao visitá-lo em Paris, antes de sua morte, disse a seu respeito: “Gioberti est tourjours um grand enfant de génie. Ce serait um grand homme, síl avait le sens commun”.

44 - Marello passara viver a sua nova fase no seminário, depois de sua experiência de Turim, nos anos de 1864 e 1865, precedida de seus sonhos humanitários em 1861, chegava em 1866 na fase que ele denominou de “metamorfose de realização” (Cfr Carta n. 9). Passava assim do desejo do “Apostolado humanitário”, embasado no positivismo presente na Itália, ao “Apostolado católico”. Era a sua grande virada. Nessa sua nova decisão, foram-lhe de grande ajuda a leitura dos grandes pensadores cristãos. Escritores como Blaise Pascal, morto em 1662; ”Estou ruminando os Pensamentos de Pascal”, escrevia ele ao seu amigo Rossetti; Chateaubriand François René; Na mesma carta a Rossetti acrescentava: ”Li também Os mártires do Cristianismo de Chateaubriand”; Auguste, morto em 1848; Alessandro Manzoni, morto em 1873 e Cesare Balbo, morto em 1853. Para ele, a sua nova concepção dos valores o conduzia para apreciar outros valores, por isso dissera que “as grandes inteligências de nada valem, pois são os grandes caracteres que abalam o mundo” (Cfr Carta N. 10).

45 - No dia 9 de fevereiro de 1864, depois de sua experiência fora do seminário, morando e estudando em Turim, Marello foi acolhido pelos superiores e colegas no seminário e iniciava juntamente com outros 15 colegas, iniciando o primeiro ano de teologia; tinha 20 anos de idade. O vigário geral, Pe. Sossi ao saber que Marello tinha pedido para voltar ao seminário disse: ”Para Marello escancaramos as portas e o portão”.

46 - No ano de 1867 Marello foi encarregado pelos superiores para ser o assistente dos clérigos estudantes de teologia juntamente com Egídio Motta. Para que essa responsabilidade lhe fosse dada ele deveria ser exemplo para os companheiros e o era, tanto é verdade que por ocasião de um retiro espiritual pregado aos seminaristas, Francisco Dassano, ao falar dessa virtude, incentivava a todos a adquiri-la a fim de que fossem capazes de cumprir no futuro algum encargo na Igreja, e para encorajá-los acrescentou-lhes: “Quem sabe se sobre a cabeça de algum de vocês não vão colocar uma mitra”, e todos imediatamente se voltaram para Marello, prova de que era responsável.

47 - No dia 14 de janeiro de 1868, por ocasião da festa de Santo Hilário, patrono do seminário de Asti, Marello foi encarregado de tecer o panegírico na capela dedicada ao santo. Suas palavras foram tão acertadas que Pe. Giovanni Goria relata que foram palavras eruditas, cheias de piedade e de incitação ao apostolado que mereceram a admiração de todos os presentes.