1 - Infância



José Marello – seminarista menor,
fotografia com o teólogo Paulo Elias,
amigo de família em San Martino Alfieri.
Infância
São José Marello, uma vida exemplar e edificante
Capítulo 1
 
01 - A família de Marello era originária de San Martino Alfieri, uma localidade que contava no tempo do Fundador com aproximadamente 930 habitantes. Os avós de Marello se chamavam Giovanni Giuseppe e Lucia Maria Barbero. Dos oito filhos que tiveram quatro morreram em seguida, o que indica o alto índice de mortalidade infantil, particularmente o tifo, a varíola, a icterícia, a disenteria e o cólera. Eram tempos difíceis, de modo especial no campo onde os soldados de Napoleão I causavam devastação e miséria. Excepcionalmente, no ano de 1817, as colheitas foram desastrosas devido as geadas e depois a longa seca de verão, fato esse que levou Vincenzo Marello, o filho mais velho e (pai de Giuseppe Marello) deixar San Martino no ano de 1825, quando tinha 18 anos e ir buscar trabalho em Turim. A cidade de Turim naquela época tinha passado dos 80.000 habitantes para 127.000 habitantes devido ao afluxo de gente não apenas do Piemonte, mas de toda Itália que acorria para esta cidade em busca de condições de vida melhor, o que a tornava, por outro lado, um centro de miséria.

O2- Em Turim, Vincenzo Marello começou trabalhar com a família Secco, comerciante de queijos bem sucedida. Casous-se entre os anos de 1837 a 1840, com Maria Maddalena Luigia, uma das filhas de Domenico Secco, esta morreu (seguramente de tifo) logo em seguida, no dia 17 de março de 1841. Passados dois anos da morte de sua esposa, Vincenzo se casou, no dia 26 de fevereiro de 1843, com Ana Maria Viale, a qual tinha a idade de quase 20 anos. Da união deles nasceu no dia 26 de dezembro de 1844 Giuseppe Marello e no dia 27 de maio de 1847, Vittorio Marello. Giuseppe foi batizado no mesmo dia, na igreja do Corpus Domini, de Turim, tomando o nome completo de Giuseppe (em homenagem ao avó paterno), Chiaffredo (em homenagem ao padrinho de batismo), Stefano (em homenagem ao santo do dia). Dois anos depois do nascimento de Vittorio, Ana Maria morria no dia 5 de abril de 1848. Dela ficou a lembrança de uma sua fotografia estampada num quadro pintado a óleo representada com uma fisionomia dócil, simples e reflexiva. Esse quadro pertencia ao Fundador e hoje se encontra no museu histórico da Casa Mãe em Asti. Era uma mulher de piedade, com grandes virtudes e que muitos a chamaram de santa.

03 - Com a morte de Ana Maria, a tia dos dois filhos de Vincenzo, Catarina Secco que tinha apenas 23 anos, assumiu o cuidado deles. Catarina será uma verdadeira mãe para ambos, mas casou-se em 1853, portanto cinco anos depois da morte de Ana Maria. Preocupado com a formação dos filhos, Vincenzo tomou a decisão de deixar Turim e voltar para San Martino Alfieri para dedicar-se mais aos dois filhos. Depois de 27 anos vividos em Turim e com os seus 45 anos, Vincenzo iniciara uma nova vida totalmente diferente daquela de Turim; era o início de 1852. Em San Martino Alfieri Giuseppe e Vittorio moraram com o pai, o avô, a avó e o tio Giovanni Battista. Seus avós continuaram com a boa educação que a tia Catarina tinha dado a ambos. Em San Martino, Vincezo, como bom comerciante, se dedicara ao comércio de terrenos mais do que ao cultivo da terra.

04 - Em San Martino, Marello teve como seu pároco Pe. Giovanni Battista Torchio, o qual tinha iniciado o seu ministério sacerdotal nesta cidade, com 28 anos de idade e permanecera por 42 anos, ou seja, até a sua morte em outubro de 1890. Marello adolescente em San Martino se distinguira pela aplicação nos estudos (em casa ficava quase sempre em seu quarto lendo livros), pelo exemplo de piedade (sempre presente nas missas de manhã), pelo seu amor pelos pobres (fazia de tudo para dar uma esmola ao pobre que pedia), pela sua índole calma (não brigava com os colegas e não perdia a calma) e pela sua obediência ao pai e aos avós (sempre dócil e obediente).

05 - O adolescente Giuseppe Marello estudará numa escola de San Martino, tendo como seu professor Pe. Silvestre Ponzo, que gostava muito dele, tanto é verdade que em um de seus cadernos Marello escreveu: ”Jamais me esquecerei do amor e da bondade que o senhor me demonstrou e continua me demonstrando. Eu me lembro do senhor todos os dias com ternura e gostaria de poder provar-lhe com fatos o quanto eu me sinto grato e quão grande é o afeto que carrego e carregarei sempre pelo senhor”.

06 - Vivaz e inteligente, Marello era ciente de suas capacidades, tanto é verdade que seu pai se orgulhava dele. Por isso se esforçava para não se ensoberbecer. Seu colega de escola, Giovanni Bussolino, lembra que ele era muito obediente para com seu pai e avós e tinha um comportamento exemplar.

07 - O pároco de Marello, Pe. Torchio, foi quem lhe deu a primeira comunhão em 1853 quando tinha 9 anos de idade. Dois anos depois, no dia 15 de agosto de 1855, a Festa de Nossa Senhora da Assunção, ele e mais 290 adolescentes receberam o sacramento da crisma das mãos de Dom Felipe Ártico. Preparado desde criança para a comunhão com Deus fazia uso de um livrinho que continha muitas orações sobre Jesus crucificado, sobre o Sagrado Coração e Nossa Senhora. Nesse livrinho que trazia consigo havia a máxima de Santa Teresa de Ávila que ele tanto apreciava: ”Nada te perturbe; nada te assuste: tudo passa; com a paciência tudo se vence. A quem teme a Deus nada falta; Deus só basta”. Quando criança teve também em suas mãos uma “Coleção de orações devotas”,datada de 1851 em Alba. É interessante descobrir ali, entre outras coisas, uma linda invocação, transmitida posteriormente aos seus Oblatos: “Bendita seja a santa e imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria”. Outro livrinho de orações de seu tempo de criança era denominado “Alimento dos fiéis ao assistir à santa Missa”, datado de 1852, em Turim.

08 - Padre Torchio gostava de sua maturidade e de seus exemplos e por isso o escolheu como catequista para os menores. Tinha apenas 11 anos e já escrevia em seus cadernos suas lições de catecismo, como uma relatando o diálogo de um pequeno burguês, recém-laureado, que em nome da ciência negava Deus, e um menino do terceiro ano primário que lhe propunha um enigma:”Se existiu antes o ovo ou a galinha”, e constrange o jovem doutor a afirmar a existência de Deus justamente com base no princípio da causalidade.

09- Marello apresentava-se com uma estatura alta e de cor branca, tinha seus cabelos pretos, o rosto redondo e os olhos azuis e vivazes. Tinha os lábios sempre tocados por um leve sorriso e voz muito melodiosa. Quanto a sua saúde sabemos que, por volta dos oito anos, por causa de sua sensibilidade ao ar insalubre de Turim, foi obrigado a mudar-se para os campos mais abertos de San Martino e ai se recuperou bem, todavia teve que cercar-se sempre de cuidados. Ele mesmo se definia um pote rachado que, com os devidos cuidados, poderia servir como um novo. Sofria de hemorróidas com freqüentes hemorragias, mas suportou esse incômodo sempre em silêncio.

10 - No final do ano letivo, por ocasião das férias escolares de 1856, Marello recebeu de seu pai uma viagem à Savona como presente pelos ótimos resultados nos estudos. Era um ótimo presente, pois Savona era uma cidade turística embora não se chegasse até ela com o trem e por isso era preciso ir de Asti a Gênova de trem e dali até Savona de diligência, com freqüentes trocas de cavalos. Essa viagem ficaria marcada na alma do adolescente Marello, pois dentre tantas novidades para ele era a primeira vez que contemplava o mar, ocasionando-lhe uma imagem que levara consigo a ponto dele próprio desenhar no seu brasão episcopal um mar agitado com o monogramo MA e com a frase “Iter para tutum”. Em Savona visitou o Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia.

11 - Era possuidor de grande habilidade nas matérias literárias, particularmente no latim, o qual traduzia e escrevia com precisão. Sua inteligência era notável, tanto é verdade que venceu para um seu amigo um concurso literário redigindo sobre Vittorio Alfieri. Sua humildade não permitiu que ninguém viesse saber que foi ele quem tinha feito aquela composição.

12 - Nas ciências exatas era melhor ainda e, quando saiu do seminário de Asti, exercera em Turim, por aproximadamente um ano e meio a profissão de projetista.

13 - Durante o tempo em que esteve em Turim, depois de sua crise vocacional, desenhou uma estrada para fazer um desvio entre as localidades de Govone e São Martinho Alfieri.

14 - No seminário Marello era o desenhista da capa de um jornalzinho editado pelos seminaristas dentro do próprio seminário.

15 - Virtude admirável era o seu coração sensível às necessidades dos pobres e marginalizados. Essa é comprovada quando certa vez o menino Marello viu um velho mendigo sendo ridicularizado pelos seus colegas e tomou energicamente a defesa deste pobre velho. Consolou-o e o conduziu até a sua casa e deu-lhe comida e roupas. Seu amor pelos pobres é ainda comprovado com um trecho escrito por ele em seu caderno que diz: ”Eu conheço um menino, um bom menino, que todo sábado leva seu vinho para um velho doente, e, nos dias festivos, separa para ele aquilo que tem um pouco a mais na mesa. Conheço outro que no lugar de muita coisa no café da manhã pede à sua mãe uma moedinha por dia e assim no domingo, com aquela poupança de uma semana, um velhinho pode ter um pouco de carne em sua mesa”. Quem o conheceu sabe que ele era tão caridoso para com os pobres que, às vezes, para socorrê-los, privava-se do seu café da manhã. Portanto o menino a que ele se referia no caderno era real, não fictício, era ele mesmo. Pe. Giovanni Battista Cortona lembra a sua caridade para com os pobres era tão manifestada que às vezes os ajudava, privando-se também de seu café da manhã. Por isso, aquele menino relatado em seu caderno queria indicar que realmente era ele.